É agora.
Pensou o homem, que corria com uma pequena garota chorando em seus braços.
Seus sapatos batiam no concreto fortemente mostrando o quão desesperado ele queria chegar lá.
O choro da criança ficava cada vez mais forte e insuportável de se escutar.
- Não me deixe. – Gritava a garotinha – Por favor, papai, fique comigo!
Lágrimas brotaram no olho do rapaz. Sua filha de apenas 5 anos estava ali pedindo por aceitação e o mais importante: amor.
- Eu não vou deixar você, minha querida. Você só vai passar um tempo com a tia Carly enquanto o papai vai viajar para trabalhar. –Mentiu com a garganta fechada.
- Papai, eu prometo ser boazinha. Eu ajudo com você para limpar a casa. Mas por favor, não me deixe como a mamãe me deixou. – Falou entre os soluços a pequena.
- Shhh – Tranquilizou o homem. – Está tudo bem. Você vai ficar bem.
A nuvem que antes estava limpa, agora jazia pequenas gotas de água.
Trovões abordaram as ruas silenciosas enquanto os dois pararam na frente de uma casa. Andando por entre a grama, via-se uma placa presa onde dizia Abrigo dos Neols.
O homem colocou a sua filha no chão e correu para tocar a campainha enquanto a pequenina lhe seguia.
- Papai! Por favor, eu não quero ficar aqui! – Gritou a menina tremendo os seus lábios avermelhados.
- Você precisa. – Falou o pai derrotado.
Com a mesma velocidade que o homem tocou a campainha, a porta foi aberta e uma senhora de cabelos grisalhos saiu por ela.
- Mas o que diabos está acontecen—
- Olá Carly – Falou o homem interrompendo-a.
- Horácio – Acenou a grisalha, surpresa – O que você está fazendo aqui?
A pequena, que antes gritava, veio ficar entre seu pai e a velha.
Horror perpassou no rosto da mulher quando sua vista bateu na garotinha.
- Essa é...
- Sim. – Falou o homem destemido – essa é minha filha.
- Tire ela daqui- Falou a velha cerrando os dentes – eu não quero aqui uma filha de uma –
- Filha de uma o quê, Carly? – Ameaçou o homem- Ela é minha também! Eu preciso que você cuide dela. Sei que as outras crianças aí poderão ser bons amigos para ela. Ela precisa conhecer o amor para que nada da herança da mãe a atinja.
- E por que você não dá esse amor que ela precisa, Horácio? Sabe, ela vai querer a presença paterna na vida dela.
Um silêncio desconfortável veio da parte dele.
Enquanto as dolorosas palavras da senhora presente na porta o atacavam, a pequena criatura, pela primeira vez desde que Carly aparecera, falou.
- Papai do que vocês estão falando? Eu quero ir para casa e não quero ficar com essa daí – Falou com os olhos marejados tomados pela fúria.
- Anita- Repreendeu o pai – Conheça a tia Carly. Ela vai cuidar de você enquanto estarei ausente.
- Eu quero ficar com o senhor! – Gritou desesperada.
- Horácio, Deus me castigará se eu prometer de cuidá-la. – Falou Carly em um sussurro, ignorando os protestos de Anita.
- Não. Ele não vai. Como eu disse: ela é minha filha também, Carly. Sou um rapaz humano! Eu tenho fé. Sabe o quão forte isso me deixa? – Horácio falou elevando sua voz.
- Forte de chegar ao ponto de abandoná-la? – Perguntou a senhora irritada.
- Eu não estou abandonando-a completamente. E estou falando que sou forte religiosamente. - Rosnou o rapaz.
- Isso não muda o fato dela ser filha de —
- Muda. Porque minha filha não teve culpa de ser uma anomalia. A mãe dela me enganou! – Falou Horácio com determinação.
A senhora pensou sobre o assunto. Derrotada, ela suspirou.
- Se é assim – Ela divagou - você pode contar comigo. Cuidarei dela.
A pequena garota olhava para os dois incerta, sem saber sobre o quê eles estavam falando.
Horácio tremeu de alívio.
- Obrigado, Car – Disse citando o apelido carinhoso que dera a ela quando antes era um menino – Assim quando eu estiver recuperado da partida da mãe dela... Eu a buscarei.
- Sim, eu entendo – Falou Carly levemente. – Eu serei sua guardiã e não deixarei ninguém adotá-la.
- Não seria melhor se alguém a adotasse? Isto é, caso eu não volte.
- Horácio, ninguém sabe o que essa menina faria se soubesse que seu pai a deixou no orfanato prestes a ser adotada por outra pessoa. Além disso, se ela convivesse com um casal por um tempo, eles saberiam que há algo de errado com ela. Adultos são mais perceptíveis a isso do que as crianças. E isso não seria o certo.
- Como a minha vida se tornou tão complicada, Car? – Perguntou o rapaz com lágrimas em seus olhos.
- Preciso mesmo te lembrar, querido? – Perguntou suavemente.
Pegando a mão da menina, a senhora levou-a para a entrada da casa, enquanto a criança se debatia para sair do aperto das mãos que a mulher lhe proporcionava.
- Me larga! Pai! Pai! – Berrava a pequena Anita- Por favor, não me deixe! PAI!
Com um último olhar para trás, o pai dirigiu seus olhos à criança que fazia de tudo para correr em sua direção.
- Eu a buscarei em breve, Anita.
- Isso é uma promessa papai? – Perguntou com lágrimas escorrendo pelo seu lindo rostinho.
Com um sorriso triste, o homem torna-se a virar de costas para a porta e para sua filha, deixando aquele espaço onde desespero e tristeza permaneciam presentes.
O que todos não deixaram de perceber, é que mesmo ele falando que a buscaria, ele nunca prometeu.
-
Olá people, pois bem vocês são os primeiros a ver essa minha web. (:
Algumas coisas estão confusas mas isso será explicado ao longo dos capítulos.
Beeijos,

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